O coronavírus e a economia mundial

O coroonavírus e a economia mundial. A possível saída do Banco Central chinês da flexibilidade seletiva para o estímulo monetário mais amplo

 

O economista-chefe global do Andbank, Alex Fuste, vem acompanhando atentamente as notícias sobre o avanço do coronavírus na China e no mundo. Para ele, “parece claro que este episódio terá um custo econômico, pois o mercado de ações estaria à frente disso, como se pode ver nas cotações descendentes dos últimos dias, embora ainda não muito intensas”.

 

Fuste diz que já se espera um colapso em alguns setores de serviços chineses nas próximas semanas, como é o caso de restaurantes, hotéis, companhias aéreas, cinemas e energia. Também é preciso lembrar que Wuhan, a cidade onde surgiu o vírus, é um centro logístico e de produção de componentes de carros, setor que, depois de travar a economia em 2019, estava se recuperando no último trimestre, mas que deve pesar no PIB dos três primeiros meses de 2020 com o isolamento e a quarentena da região.

 

Algumas previsões mais negativas apontam para a possibilidade de o crescimento econômico chinês desacelerar em até quatro pontos no primeiro trimestre. Basta lembrar que, durante o surto de SARS em 2003, o aumento nominal do segundo trimestre no valor adicionado do setor de transportes caiu de 6,9% para 2,1%.

 

Como fator positivo, o economista-chefe global do Andbank acredita em uma mudança na gestão do PBoC – o banco central chinês – que, provavelmente, passará da atual flexibilização seletiva para um estímulo monetário mais amplo. “Não é possível saber ainda se essa medida vai compensar, total ou parcialmente, os efeitos econômicos do surto. Tudo vai depender da rapidez com que a situação se normalizará”.

 

Fuste diz ainda que também deverá haver um impacto econômico global. A ocorrência de casos de coronavírus, quase simultaneamente, em outros doze países, mostra que a China faz parte da cadeia de suprimentos mundial e que uma eventual paralisia nesses centros de produção terá impacto em todo o globo.

 

No momento, avalia Fuste, o mercado da dívida americana (UST) mostrou ganhos que poderiam ser considerados limitados. Durante o período de divulgação de notícias sobre o surto, a TIR (taxa interna de retorno) do UST 10Y (dívida de 10 anos) caiu de 1,85% para 1,61%. Já o dólar americano (USD) aumentou marginalmente. Esses fatos podem sugerir duas coisas: 1) nem o UST nem o USD são considerados ativos de refúgio; 2) o mercado pensa que toda essa incerteza, como ocorreu no passado, não vai alterar a trajetória econômica favorável.

 

“Pessoalmente, descartaria a primeira sugestão e ficaria com a segunda”, finaliza o economista-chefe global do Andbank.